Ele continua lá,
Nunca saiu do seu lugar,
Mas ela que responde,
Ela, invasora dele.
Ele tentou se achar,
Ela veio como resposta.
Ele tinha feridas,
Nela veio a cicatriz.
Ele queria ser amado,
Ela espera o amor
Em cada esquina por aí.
Entre ele e ela,
há uma brecha,
existe fé.
- poema Travesti.
Lanuk, tem 23 anos, é Natalense, estudante do curso de letras na UNP, atua como professor de língua Inglesa e é missionário. Acerca de si mesmo diz: "...tenho uma personalidade muito estranha. Os psicólogos e os testes de personalidades dizem que sou melancólico. Eles não mentem.". Será que não mente?
Procurando aproveitar o lado bom da melancolia, Lanuk busca desenvolver a sensibilidade com a vida, o olhar e a empatia com o outro. Através da intensidade em suas amizades e amores, o poeta almeja fugir do que entende como lado"ruim"de sua personalidade. Nada muito diferente da sina que persegue a maioria dos poetas: lutar contra sua natureza expurgando nos versos os próprios demônios.
Confira abaixo um pouco do mais desse poeta que se diz calado, mas tem muito a dizer:
O que gosta de fazer, além de escrever?
"Gosto de ler. Pode parecer meio clichê, mas é verdade. Como tenho o sonho de conhecer o mundo, porém falta uma vontade ($), eu costumo ler para fugir da minha realidade e ir viver outras histórias, ser outras pessoas em outros lugares. Também gosto muito de estar com meus amigos, seja para viajar juntos ou simplesmente para virar a noite conversando besteira, comendo pipoca e vendo filme. "
De onde veio o interesse pela leitura e pela escrita?
"Veio de mim. Meus pais sempre me incentivaram a ler, porém nunca compravam livros para mim. No ensino fundamental, eu tive uma professora de Língua Portuguesa que trabalhava muito a questão da leitura por meio de um projeto chamado Roda de Leitura. Cada aluno deveria escolher um livro e apresentá-lo para a classe, com isso eu era obrigado a ler e com o tempo se tornou mais que uma obrigação, virou paixão. Quanto a escrita, eu sempre fui muito inseguro quanto aos meus sentimentos e gostava muito de música, por isso eu escrevia ou como uma forma de desabafo do que eu sentia ou como uma tentativa de compor alguma canção, com o passar do tempo a coisa foi ficando seria. Comecei a compartilhar meus textos com meus amigos e recebi o incentivo para escrever e publicar o que escrevia. Por isso estou aqui hoje."
O que você costuma ler?
"Eu não me privo de nada. Leio de tudo! Vou do Rio Grande do Norte aos países europeus e africanos. Leio bastante desde os versos loucos de Manoel de Barros, as poesias desenhadas nos grafites e escritas nos versos de Sinhá, os romances do Jô Soares, os contos do Marcelino Freire curto muito as poesias fofinhas do Pó de Lua e do Eu me chamo Antônio, me choco com a escrita visceral de Conceição Evaristo, com o profundo sentimentalismo em Florbela Espanca e a complexidade de Fernando Pessoa e seus heterônimos. Confesso que tenho um xodozinho com os escritores africanos de língua portuguesa, como Mia Couto, Paula Tavares e Agualusa. Ultimamente tenho lido um livro de poemas de uma escritora polaca chamada Wisława Szymborska, estou fascinado pela sua escrita, é bem diferente."
Para você o que é poesia?
"Como diz Octávio Paz: A poesia é um organismo verbal produzida pelo silêncio. A verdadeira poesia nos choca, porque nós a compreendemos, mas não sabemos como explicá-la, precisamos sempre voltar a ela, porque a verdadeira poesia é como uma fenda, possui um lugar que diz tudo, mas é preenchido pelo nada, sempre há algo para dizer. Fico triste porque vivemos em uma sociedade que não tem paciência para ler poesia e se deliciar com suas incógnitas, acho que por isso temos poetas fazendo poesias tão ralas."
Na sua opinião a pessoa nasce poeta ou aprende a ser?
"Acho que ninguém nasce nada. Tudo o que somos, nos tornamos."
Quais os projetos que você participa atualmente?
"Procuro sempre participar de movimentos sociais e religiosos que estejam ligados as pessoas, principalmente aquelas que estão à margem da nossa sociedade, como os mendigos, as garotas de programas e jovens em situação de risco."
O amor é a chama
que duplamente arde
dentro do meu peito
Arde
porque dói
dói
porque é amor
Amar é sofrer
padecer
é o tempo não eterno
a carência e desejo
(do que tenho e não possuo)
é o motivo da tristeza
que tanto me alegra
Brota
como espinhosa flor
que cerca
arrocha
aperta
espreme
fura
sangra
o meu coração
O amor
é aquela flor de sangue:
bela pra quem vê
espinhosa para quem toca.
Parte da nossa entrevista foi gravada. Ouça abaixo:
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