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sábado, 21 de novembro de 2015

COEXISTÊNCIA

O mínimo esclarecimento do que se diz 'espiritualidade' pressupõem o rompimento com qualquer tipo de fórmula. Semelhante a um animal ora domesticado, o indivíduo quando livre se retrai contra qualquer modelo religioso de engessamento. Para além da tradição, o afrouxar das amarras, leva a noção mais simples e necessária à coexistência: o respeito.


Nessa dimensão encontra-se um estágio de autoafirmação e com ela a despreocupação com a opinião alheia. Essa opinião não perde a importância nem o valor, mas a partir de então, ela não dita mais as regras nem orienta o comportamento.


O sujeito livre não sente a necessidade do combate. Ele compreende que o seu discurso deve ser levantado apenas nos lugares onde é bem recebido. Os debates tolos e frígidos, as conversas tendenciosas, os comentários encharcados de veneno não fazem mais parte do cardápio. Aprende-se a arte da seletividade. Você escolhe quando, onde, como e com quem conversar sobre os temas mais complexos.


Esse homem ou mulher se alimenta no substrato da arte, da leitura, da música e da ciência. Suas portas estão abertas ao empirismo, a experimentação do novo e a transcendência da razão. A grande diferença é que ele não mais se limita a busca no templo ou pelo dogma.


O místico também lhe é por companheiro. O olhar transfigurado lhe permite ver a manifestação da força na labuta diária dos ônibus lotados; ele absorve a paz da meditação na fila do caixa. Ele ouve a conversa divina nos compassos de suas músicas preferidas. Ele medita nos versos dos seus poemas e os tem por oração. Seu unguento transborda quando se apaixona. A energia é perceptível no meio de seus amigos e familiares. E ninguém, absolutamente, ninguém tem o direito de dizer que isso não é sagrado!


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