Apreender e compreender, partilhar. Esse é o diálogo singelo que pode unir pessoas, fazer com que as almas se toquem. Lendo María Viana eu comecei a dialogar com as músicas livres de O Teatro Mágico e por consequência, consegui dialogar com algumas dores e algumas esperanças que trago no peito. Há espaços dentro da gente que só a poesia alcança.
Maíra Viana, escreveu em O Teatro Mágico em palavras II - diálogos:
O que faz com que algumas pessoas sejam nossas e todo o resto do mundo não?
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... ver a vida me acenar novamente o sentido das coisas, à partir de uma pequena cova.
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... em algum momento da vida, daqueles em que o tempo para, os letreiros sobem e a gente se pega com oolhar longíquo, imaginando, da padaria, o que vem depois, quando a trilha acaba.
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Nada mais me pertence. Meus sonhos, meus medos, as coisas que sou e não sei, as coisas que quero e não fui. Como posso impedir o inevitável, se já não sou o que era momentos atrás? E meus pés, que fazem eles? Não me respeitam mais e lhe acompanham como se tivessem, para sempre, sidos seus. Como se atrevem, você e essas partes todas de mim? Não me reconheço mais, sabendo o que sei agora. Entendendo que o que mais quero é deixar que me leves pelo braçom flutuando nesse bosque-mar que vislumbro, ambos se inciando em algo mútuo, torcendo sempre para que bons ventos possam nos alcançar.
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O amor violava todos os espaços, superlotava o armário do quarto, transbordava a pia em pilhas de pratos, persistia em arranhar no violão aquele seu sambinha chato.
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Todo dia eu acordo e me separo de você. Sigo meu caminho e busco outros prazeres. Preencho as lacunas de pensamento com chocolate e televisão. Troco móveis de lugar para que nada me lembre o que eu não devo lembrar. Em diante do espelho, me convenço que tudo isso é essencial.
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Então, fica combinado assim: eu me salvo e você se salva. E a gente se vê qualquer dia.
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Todo dia eu acordo e me separo de você. Pago contas, anoto recados, vou ao cinema, pego trânsito e pareço seguir em frente. Me separo de você e de tudo o que eu não quero mais viver.
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O problema é que toda noite eu adormeço e me caso com você de novo.
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Já tampei os ouvidos, já soltei bomba, já mandei tudo pelos ares. E está tudo aqui dentro outras vez: cheiros, sons, diálogos tradios...
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E, poxa, às vezes a gente só precisa dizer "alô" ou dividir uma garrafa de cerveja com alguém, num boteco de calçada.
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Ando tentando entender a essência desse povo todo, que habita o meu espaço, o chão da Terra, a nossa era. Eu observo as minhas pessoas.
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Falo de uma frequência afetiva que faz com que a gente se perceba, se pertença, se adote; oscilando encontros e desencontros, em ondas de afinidade que nos selam uns nos outros, mesmo que distante, independente de que horas são e de onde estamos agora!
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Levávamos conosco o amuleto da coragem e um punhado de fé suficiente pra acreditar que o outro matinha-se vivo, talvez já do lado de lá, à espera do que haveria de ser quando estivessem novamente se fazendo companhia.
Um comentário:
Concordo com voce... "Há espaços dentro da gente que só a poesia alcança". Espaços que, no abstratismo das ausências, são preenchidos pela concretude terapêutica da poesia... Abraços
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